segunda-feira, 14 de maio de 2012

O Diário de Alice Jackson Part. 2



Passamos o dia todo arrumando aquela maldita casa principal - e graças à Deus eu já a vinha conservando - porque é a casa que a minha mãe viveu em matrimônio com o meu pai e em adultério com o meu tio ou pai biológico, nem sei a verdade. No meio de tudo isso, eu nem sabia mais o que pensar. Estava com medo. Muito medo. Para começar eu nunca vi um homem sem roupa, nunca mesmo, e eu nunca beijei um homem - o padre diz que é o pior pecado existente, o da fornicação, e uma mulher pode engravidar em apenas um beijo - eu sempre fui católica praticante, sempre achei que a pureza da mulher fosse o essencial, e suas virtudes seriam reveladas a partir daí. Não que eu tivesse tempo para namoricos, sempre assumi as responsabilidades da fazenda, já que o meu pai transformou-se em um bêbado inveterado. Enfim, a diferença entre mim e uma freira é a batina.
A tarde Emma veio me chamar para servir o almoço e eu disse que iria assim que terminasse de arrumar o leito que outrora fora de meus pais e que agora seria meu e de um desconhecido, entretanto eu arrumaria tudo e ficaria perfeito. Continuei a arrumação até que minha ama veio me chamar - Alice, o seu noivo disse que só almoça se você serví-lo, e não deixou ninguém comer até que ele coma. Melhor se apressar minha menina, se não esses homens vão derrubar a cozinha! - sinceramente aquele homem esta me tirando todo o bom censo, mas é o meu noivo e como diz o padre Laurent "uma mulher deve sempre ser submissa as vontades de seu marido" no meu caso noivo. - Claro ama, vou agora mesmo! - fui e o servi, quando tentei servir os outros ele disse - Não, a partir de hoje você só serve a mim. - fiz uma reverência e saí para continuar com minhas obrigações.
Terminei de arrumar o quarto, devo dizer que as cortinas bordadas em tons claros de rosa formando rosas - risos - ficaram lindas, combinando com o forro da cama e fronhas, a mobília estava bem conservada, e depois de polida ficou majestosa, o tapete então? Ah! ficou lindo. Eu estava perdida em pensamentos, nem vi que alguém havia entrado no quarto até ouvir a sua voz - Nossa! - era ele, Nicholas! - Parece que alguém teve um trabalhão para deixar esse cômodo perfeito. - me esforcei para não demonstrar meu sobressalto, quase consegui, se não fosse a minha postura rígida. Ele percebeu; se assim não o fosse não teria estampado um sorrisinho de canto de boca - nada presunçoso por sinal - e já que ele havia percebido resolvi assumir - Espero que não costume andar nas pontas dos pés que nem ladrão, ou meu coração não aguenta!
- E espero que não se assuste sempre com besteira, ou não vou poder fazer muito. - devolvido na mesma moeda, ele deve pensar que isso é um jogo, homens.
- Gostou? - apontei para uma parede qualquer do quarto.
- Sim, está muito bonito e virginal se me permite completar. - eu ri, muito delicado da parte dele tentar não escandalizar uma "moça de família" - como Emma se referiu a mim - com a palavra virginal.
- Agora que já caçoou o bastante, devo dizer que o padre já chegou e que deve-se preparar. - apenas fiz que sim com a cabeça e abri o guarda-roupa da minha mãe com os mais lindos vestidos, e peguei o do seu casamento, ele era perfeito. Muito singelo devo dizer, sem camadas e supérfluos bufantes, o caimento era simples mas muito gracioso, cheio de detalhes desde o bojo até a cintura e as mangas longas eram de renda e não me fariam suar. Poderia ficar horas falando da beleza do vestido de casamento mais bonito que já vi, estava tão imersa em meus pensamentos que nem o vi sair mas ouvi minha ama entrar. Me preparei, coloquei o vestido e Emma arrumou o meu cabelo e colocou o chapéu que foi da minha mãe- como disse, sem exageros - o que muito me agrada.
Desci as escadas da casa e todos da cidade estavam lá, eu não sei como eles descobriram e como ou porque havia decoração de casamento e comida de casamento na parte sombreada de fora da casa, eu fiquei tão emocionada que me controlei para não chorar, só podia ser obra de Emma. A olhei no fundo dos olhos, a mulher que me criou - Isso tudo é obra sua! - tentei ser severa e falar como se fosse uma acusação, todavia não obtive êxito.
- Quando mandei o Tomy ir a cidade chamar o padre, mandei também que convidasse o povo para o seu casamento e que cada um trouxesse uma comida ou não participaria da festa.
- E mesmo assim eles todos vieram.
- Você sabe que muitos deles lhe tem muito afeto, e os outros não suportariam não participar da fofoca da semana.
- Você tem razão ama. - e a abracei apertado, a minha velha ama, com quem sempre poderia contar. Ela estava muito bonita, com um vestido cor de pêssego que usava apenas em ocasiões especiais e me levou até o altar - já que era a única responsável por mim -  e me tornei Alice Jackson Morgenstern. Dá para acreditar? Nem sei o que esperar da minha vida de casada só quero que não seja igual a dos meus pais, não vou trair e nem quero ser traída. Mas o meu casamento não foi realizado na base do amor e sim de um contrato...Estou perdida e não sei o que pensar, no entanto vou aproveitar a minha festa de casamento e o resto deixarei para quando acontecer, não vou antecipar sofrimento!
O homenzarrão - que mais tarde na festa descobri que se chamava Jonathan - me convidou para dançar, é claro que com a permissão do meu marido, e dançamos. Admito que para um homem daquele tamanho ele dançava divinamente, dancei com o Nicholas cara a cara, corpos próximos. Este homem me fascina! E devo admitir que o chamar de meu marido não é tão ruim assim.

Ass: Yasmin Oliveira

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